ESTUDANDO INGLÊS PELO LIXO RECICLÁVEL

Como você começou na fotografia? Como se formou em jornalismo?

Geralmente recebo essas perguntas e as respostas não são tão simples nem românticas como muitos gostariam, do tipo "venho de uma família artística" ou "ganhei minha primeira câmera quando era criança", etc.

Não. Minha história é diferente.

Meu gosto pela escrita sim, vem da infância. Aprendi a ler aos dois anos e oito meses de idade e, na minha opinião, gostar de escrever é apenas uma consequência para aqueles que leem muito.

Nascida e criada na região periférica de Santo André, ABC paulista, sou a primeira a ter um diploma universitário na família. Meus pais não podiam pagar meus estudos, mas consegui uma bolsa integral no primeiro ano de Prouni em 2005 e concluí o curso em uma das melhores faculdades privadas de jornalismo (na época).

A velha Yashica foi um prêmio que meu pai ganhou em um sorteio. Os rolos de filme eram caros para nós — assim como revelá-los. Então, o simples ato de reservar um dia para usar um rolo era um grande evento na minha família, algo que acontecia apenas a cada quatro ou cinco anos. Nesta foto, meu pai registra o momento em que segurei o estojo da câmera pela primeira vez.

Pouco antes de eu nascer, meu pai ganhou uma Yashica velha e barata em uma rifa. O simples ato de reservar um dia para tirar 24 ou 36 fotos do filme era um evento importante na família, que acontecia mais ou menos a cada quatro ou cinco anos. A única coisa que eu podia fazer era segurar a capa da câmera nas raras vezes que comprávamos filmes, como nesta foto abaixo, que provavelmente é a primeira vez que eu pude tocar a capa da Yashica :)

Mas a fotografia só iria chegar na minha vida décadas depois, nos últimos anos do curso de jornalismo.

E isso eu conto no podcast “A photographic life”, do fantástico Grant Scott, autor do United Nations of Photography.

O podcast está em inglês. Por falar nisso, já que estou compartilhando o começo de várias coisas, vou contar o jeito diferente que aprendi inglês.

Quando eu tinha 11 anos, meu pai, ex-metalúrgico, estava trabalhando como zelador em um prédio e responsável pela separação de lixo reciclável. Um dos moradores estava de mudança para os EUA e jogou fora vários livros de ‘como aprender em inglês". Eram livros bem velhos, com fitas cassetes e tudo.

Conhecendo a filha nerd que tinha, meu pai levou todos os livros pra mim. Me lembro que senti como se tivesse ganhado na loteria e comecei a estudar por conta. Amigos da escola achavam que eu estava perdendo tempo e que eu nunca precisaria de inglês na minha vida. (Não fale à uma garota estudiosa e teimosa o que ela não pode fazer)

E foi assim que aprendi. Depois, começou a jornada que levou à bolsa integral para o curso de jornalismo para famílias de baixa renda, e as longas madrugadas nos ônibus para a pós em antropologia, a sete horas da capital, mas isso é história para outro post.

https://unitednationsofphotography.com/2021/02/10/podcast-a-photographic-life-episode-136-plus-photographer-ana-caroline-de-lima/

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