Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.
E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Gênesis 12:1-3

RIKBAKTSA
PT 1 - A EXPEDIÇÃO
BRASIL - 2019
Qual o preço de uma cultura?
No norte do estado do Mato Grosso, às margens do rio Juruena, o povo Rikbaktsa vive em três territórios demarcados na Amazônia brasileira.
Entre o fim da década de 1940 e o início dos anos 1950, missionários católicos, financiados por barões da borracha, chegaram à região com o objetivo de “pacificar” os povos indígenas. O contato forçado resultou em uma tragédia: cerca de 75% da população Rikbaktsa morreu em decorrência de doenças como gripe e sarampo, para as quais não havia imunidade. Ao longo dos anos seguintes, crianças Rikbaktsa foram levadas para internatos religiosos, onde foram afastadas de suas famílias e proibidas de falar sua própria língua. Essa ruptura geracional enfraqueceu profundamente a transmissão do idioma Rikbaktsa, hoje falado fluentemente apenas por alguns anciãos. Diante da ameaça de perder uma parte vital de sua identidade, as comunidades Rikbaktsa iniciaram um esforço coletivo para revitalizar a língua e fortalecer suas práticas culturais.
Em 2019, mais de sessenta pessoas — entre anciãos, jovens e crianças — participaram de uma expedição de sete dias pela bacia do rio Juruena, em dez pequenos barcos. O objetivo era mapear locais sagrados e de importância histórica conhecidos apenas pela tradição oral, e ao mesmo tempo ensinar, em contexto, palavras do idioma, técnicas de caça, pesca e navegação tradicional. Após a jornada, nas aldeias, as atividades continuaram: jovens passaram a aprender a confecção de colares, cocares e pulseiras — objetos essenciais para manter vivos os saberes, as memórias e os vínculos culturais do povo Rikbaktsa.
Hoje, essas tradições seguem sob ameaça. Projetos de construção de hidrelétricas na região podem alagar locais sagrados e afetar diretamente o modo de vida das comunidades, comprometendo o equilíbrio ambiental e espiritual do território. Esta série, dividida em duas partes, acompanha de perto o esforço dos Rikbaktsa para preservar o que é seu — língua, terra, memória — diante de desafios antigos e novos.